Uma entrevista por telefone à SÁBADO da eurodeputada espanhola que confrontou o seu colega polaco depois deste afirmar que as mulheres são menos inteligentes
Sabado.Pt
07/03/2017
A eurodeputada socialista espanhola Iratxe García Pérez foi notícia um pouco por toda a Europa na 5.ª feira, 2, depois de responder a uma intervenção do deputado polaco Janusz Korwin-Mikke, que, numa sessão sobre igualdade de género, afirmou que as mulheres «naturalmente devem ganhar menos do que os homens porque são mais pequenas, mais frágeis e menos inteligentes».
Veja o vídeo.
Iratxe García Pérez, 42 anos, falou com a
SÁBADO ao telefone.
Que sanção espera ao deputado polaco?
O que gostaria é que não se voltasse a escutar no Parlamento Europeu afirmações como aquelas, mas isso não está nas minhas mãos, por isso espero que tenha a sanção máxima que está no regulamento, que penso que são três meses. Espere só um segundo… [foi consultar junto da sua assistente] bom, o regulamento estabelece como suspensão máximo 30 dias.
Acha pouco, deduzo?
Sim, sim.
Como é possível em 2017 na Europa alguém que tem um pensamento quase obscurantista ser eleito deputado?
O problema não é eleger um deputado, o problema é que quem o elegeu partilha estas ideias. Como haver no Parlamento representantes destas ideias e como podem ter apoio. É o que me custa entender na Europa moderna do século XXI.
Mas não é uma coisa nova, sempre existiu.
Sim, estes comportamentos machistas sempre existiram, mas a verdade é que nos últimos tempos estamos a assistir com preocupação como tem aumentado o apoio a forças de extrema direita com pensamentos ideológicos assim.
Janusz Korwin-Mikke tem um longo historial de polémicas, incluindo saudações nazis e declarações xenófobas
Na resposta que deu ao eurodeputado polaco, queria dizer mais do que disse?
Sim, claro, muito mais. Mas penso que era preciso uma contestação contundente e respeitosa, o que ele não teve com todas as mulheres. Não nos respeito. Eu queria passar a minha mensagem de forma educada, sem faltar ao respeito. Podia ter dito muito mais coisas. Que hoje na Europa o nível de qualificação académica das mulheres é maior do que o dos homens, que as mulheres passam a vida toda a trabalhar dentro e fora de casa, e é uma injustiça, em pleno século XXI, estarmos a ter salários menores do que os homens a fazer o mesmo trabalho.
Dezasseis por cento menos.
Sim. Um dos valores que sustentam a União Europeia é a igualdade entre homens e mulheres. Se conseguimos construir uma Europa que é imperfeita e tem as suas falhas, mas é uma Europa avançada nesses valores da igualdade, não podemos agora ceder perante comportamentos destes.
Sentiu tristeza ou fúria?
Fúria! Bom, tristeza, sou consciente que há pessoas que pensam assim, e isso entristece-me, mas aborrece-me que utilizem o Parlamento Europeu como altifalante dessas ideias, isso provoca-me fúria.
O Parlamento Europeu trata todos os funcionários e deputados de forma equitativa?
Sim, nas normas sim. Mas vemos também como os cargos de mais alta responsabilidade estão ocupados maioritariamente por homens. É o que chamamos ‘tecto de cristal’, que faz com que as mulheres tenham mais dificuldade de aceder aos espaços onde se tomam as decisões.
E na Comissão Europeia?
Igualmente. Recordo que quando se iniciou esta legislatura a proposta inicial de comissários tinha três mulheres em 28, depois tiveram de aumentar para sete. Não se pode admitir numa Comissão Europeia, que é o órgão executivo, as mulheres estejam representadas em 12 por cento. Se somos metade da população temos de estar representadas da mesma forma.
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